A maioria das pessoas pensa em saúde como algo individual, exames, consultas, autocuidado. Mas, para quem é LGBTQIAPN+, saúde também depende de algo fundamental: pertencimento. Porque nenhum corpo vive bem quando precisa se esconder; nenhuma mente se sente segura quando está sempre em alerta.
bell hooks dizia que “o amor cura”, e que comunidades são lugares onde podemos finalmente descansar da vigilância do mundo. Pertencer não é apenas estar presente em um grupo: é ser reconhecide como parte dele, sem precisar negociar pedaços inteiros da própria identidade para ser aceito. Quando esse reconhecimento falha, o corpo responde com ansiedade, hiperalerta, retração. Quando ele existe, o corpo finalmente pode respirar.
Brené Brown, conhecida por seu trabalho sobre vulnerabilidade e vergonha, afirma que “pertencer é ser parte de algo maior, mas também ser você mesmo dentro desse algo”. Isso é saúde em sua forma mais concreta: um ambiente onde não precisamos performar versões de nós mesmes para sobreviver.
Judith Butler ajuda a ir um pouco além, mostrando que a existência do sujeito depende de reconhecimento. Não só social, mas ontológico. Ser visto, nomeado e legitimado produz efeitos diretos no modo como habitamos o próprio corpo e na capacidade de pedir ajuda, criar vínculos e existir politicamente. “O reconhecimento é aquilo que nos permite ser.” Negado isso, o que se instala é ferida e trauma.
Pertencimento não é um luxo. É uma condição de saúde. Espaços onde pessoas LGBTQIAPN+ podem ser vistas em sua inteireza reduzem estresse, fortalecem vínculos, ampliam autonomia e criam redes de apoio que servem como proteção diante de violências cotidianas.
A Pride Care nasce exatamente desse entendimento: cuidar não é só oferecer profissionais; é construir ambientes onde o corpo não precise se defender, onde a identidade não seja interrogada e onde a vida possa se expandir. Pertencer é um remédio, e, às vezes, é o primeiro que alguém precisa antes de qualquer consulta.
