A ideia de que cada pessoa deve resolver sua vida sozinha, sem pedir ajuda, sem mostrar fragilidade, sem depender de ninguém, é uma das maiores armadilhas que a sociedade neoliberal produz. Ela vende autonomia como sinônimo de isolamento, quando, na verdade, autonomia só existe quando estamos apoiados em relações que nos sustentam.
Para pessoas LGBTQIAPN+, essa narrativa de “dar conta” se torna ainda mais cruel. Muitos crescem sem modelos de cuidado possíveis, vivenciam rejeição familiar, sofrem bullying, esconderam partes de si para sobreviver. Tudo isso cria uma sensação de que mostrar vulnerabilidade é perigoso. Mas a verdade é justamente o contrário: é na vulnerabilidade compartilhada que nascem as redes de apoio que salvam vidas.
bell hooks diz que “o amor é uma prática de liberdade”. Comunidade é isso: um espaço onde podemos aparecer por inteiro, sem performar versões aceitáveis de nós mesmes. É onde o cuidado não é caridade, mas reciprocidade. Onde um corpo não precisa carregar tudo o que pesa sozinho.
A psicóloga e pesquisadora Brené Brown também lembra que “somos feitos para a conexão”, e que a solidão prolongada tem efeitos diretos na saúde, tanto quanto tabagismo ou sedentarismo. Cuidar da mente e do corpo, portanto, não é um gesto individual: é um movimento coletivo.
Na Pride Care, acreditamos que cuidado só se sustenta quando existe comunidade. Por isso construímos não apenas atendimentos, mas espaços de pertencimento: rodas de conversa, eventos culturais, grupos de estudo, encontros formativos. São ambientes onde você pode participar sem medo, onde outros braços dividem o peso, onde outras histórias encontram a sua e fazem eco.
Ninguém deveria se cuidar sozinho porque ninguém adoece sozinho. Vivemos em um mundo que produz feridas coletivas, e só uma rede coletiva é capaz de curá-las. A força da comunidade LGBTQIAPN+ sempre esteve na partilha, no apoio mútuo, na construção de mundos que ainda não existem, mas que já sentimos nascer quando estamos juntes.
Cuidar é caminhar acompanhado.
