Cuidar não é apenas tratar sintomas ou oferecer atendimentos individuais. Para a comunidade LGBTQIAPN+, cuidado também se constrói nos espaços compartilhados, nos encontros, na arte que desloca, na educação que abre mundos possíveis. Por isso, quando criamos rodas de conversa, festas, oficinas e ações culturais, não estamos “saindo da saúde”: estamos ampliando o que saúde pode ser.
Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, dizia que a arte tem potência de libertação porque permite que pessoas minorizadas experimentem outras formas de existir, primeiro no corpo, depois no mundo. Boal entendia que não há transformação social sem transformação sensível. Que o corpo aprende política na prática, no ensaio de novas possibilidades de vida.
É exatamente isso que acontece quando criamos experiências culturais dentro da Pride Care. Uma roda de conversa sobre corpo ideal, uma festa comunitária, uma intervenção artística ou um grupo de estudo não são só atividades paralelas: são espaços onde a comunidade pode se ver, se reconhecer, testar gestos, expressões, afetos que muitas vezes foram podados pela violência cotidiana.
Cultura também é cuidado porque produz pertencimento, e pertencimento é fator direto de saúde (física e mental). É saber que existe um lugar onde você pode chegar sem precisar se justificar; um lugar onde sua existência não é tema de debate; um lugar onde sua história encontra eco em outras histórias.
Educação também é cuidado porque rompe o isolamento. Quando entendemos como poder, norma e violência atravessam nossos corpos, ganhamos linguagem para nomear feridas e caminhos para transformá-las. É nesse movimento que cuidado deixa de ser apenas socorro e passa a ser emancipação.
Na Pride Care, saúde, educação e cultura não são áreas separadas, são frentes que se alimentam mutuamente. Porque cuidar da comunidade é também criar ambientes onde possamos imaginar novas vidas possíveis. E toda imaginação compartilhada é cura e cultura.
