Muita gente ainda trata nome e pronome como detalhe, como algo “apenas social”, sem perceber o impacto real que isso tem no corpo e na experiência de quem busca cuidado. Mas para pessoas trans e não binárias, e, muitas vezes, para qualquer pessoa LGBTQIAPN+ que já teve sua identidade questionada, ser nomeade corretamente é mais do que respeito: é um marcador direto de segurança e humanidade.
Quando um profissional acerta seu nome e pronome, não é só uma formalidade. É um sinal imediato de que você pode baixar a guarda. É o momento em que seu corpo entende que não precisa se defender. E quando essa tensão desaparece, o cuidado finalmente pode começar.
Por outro lado, o erro constante ou a recusa em usar o nome e o pronome corretos não é uma “gafe” inocente. É uma forma de violência simbólica que desorganiza, expõe, humilha e impede a criação de vínculo terapêutico. Ninguém consegue falar de dor, trauma ou vulnerabilidade com quem insiste em negar sua existência.
Judith Butler nos ajuda a entender por que isso fere tão profundamente. Argumenta que a linguagem não descreve apenas quem somos, ela nos constitui. Ser nomeade corretamente é ser reconhecide como sujeito; é ter sua humanidade convocada para existir naquele espaço. Quando a linguagem falha ou é usada de forma violenta, não é apenas um equívoco comunicativo: é uma tentativa de retirar alguém do campo do reconhecível, do inteligível, do possível. Somos vulneráveis à linguagem porque dependemos dela para aparecer no mundo. Quando nome e pronome são negados, o que se atinge não é só a forma de tratamento, mas a própria condição de ser.
Na Pride Care, esse princípio é inegociável. Nossos profissionais parceiros afirmam o compromisso com práticas antiopressivas e com o reconhecimento pleno da identidade de cada pessoa atendida. Porque nenhum tratamento funciona quando a base (existir com segurança) ainda está sendo ameaçada.
Cuidar é também afirmar. E afirmar começa pelo nome.
